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Venda de patrimônio ainda divide opiniões
Muitos criticam decisão da filha de Gonzaga, detentora dos direitos do pai
 
 


Para o sanfoneiro Joquinha Gonzaga, sobrinho do Rei do Baião, Rosinha não respeitou a história de Luiz Gonzaga 

Ainda hoje a venda do patrimônio que pertenceu a Luiz Gonzaga, no Exu, causa ressentimento de amigos e parentes com a principal herdeira do Rei do Baião, Rosa Maria Gonzaga do Nascimento, a Rosinha. Sem poupar críticas, alguns tratam a atitude como desrespeito à memória de um dos maiores ícones da história da MPB. No entanto, há também quem não recrimine a decisão da filha, legítima detentora dos direitos do Velho Lua.

Em 1993, após a morte de Helena, Rosinha herda os 62,5% do patrimônio da mãe, oriundo dos 50% atestados em cartório, mais os 12,5% repassados por Gonzaguinha. O cantor carioca, também filho de Seu Luiz, ficaria com os outros 12,5% restantes. Com os 25% que já era de direito, a filha do Rei do Baião herdou o total de 87,5%, valor que incluía o Parque Aza Branca e o Memorial onde os restos mortais do pai estão enterrados. No mesmo ano, decide vender sua parte, que mais tarde seria comprada pelo empresário José Alves de Alencar, grande admirador do artista.

Divisão à parte, o fato é que a família temia qual destino tomaria o Parque Aza Branca, a quem Gonzaga tanto sonhara ver se desenvolvendo. "Foi uma decisão que a família não concordou. Rosinha não vinha aqui, mas sabia que existia um patrimônio, o museu, e toda a história de Luiz Gonzaga aqui no Exu", lamenta o sobrinho e ex-músico de Seu Luiz, Joquinha Gonzaga. O rancor, no entanto, foi deixado de lado. "Se viesse me procurar, para a gente se unir, faria com todo prazer. Todo mundo erra, e é legal você se arrepender por uma atitude incorreta. Sou muito de perdoar".

Em contraponto ao posicionamento de Joquinha, a renomada escritora francesa Dominique Dreyfus, autora de "Vida do Viajante - a Saga de Luiz Gonzaga", considerada a mais completa biografia sobre o Rei, opina que Rosinha não tomou a atitude errada. "Acho que ela teve razão em vender. O que ela ia fazer com esse parque, que ela não conhecia direito? É a lei, só espero que administrem bem, que sempre tenham pessoas ajudando a mantê-lo".

Raimunda dos Sales, a Dona Mundica, 62, que trabalhou mais de 20 anos como cozinheira na casa de Luiz Gonzaga, sendo oito anos no Rio de Janeiro, é ainda mais veemente ao falar sobre a venda de boa parte do patrimônio que pertenceu ao pai. "Se ela fez isso, é porque achou que mereceu. Ela sempre foi mais desligada daqui, nasceu e se criou no Rio, e não quis vir embora para cá, Sertão. Ao contrário do que o povo pensa, ela é uma pessoa bem simples, igual ao pai dela. Quem não a conhece, se quiser, vai poder conhecer em dezembro", revela Mundica, em referência à visita de Rosinha ao Exu, na festa que o município irá realizar, no dia 13 de dezembro, em comemoração ao centenário de Luiz Gonzaga. Hoje, Dona Mundica, apelido dado por Luiz Gonzaga, toma conta da casa onde morou o Rei, no Parque Aza Branca (Acrescentei).


Dona Mundica, que trabalhou mais de 20 anos como cozinheira na casa de Luiz Gonzaga, defende atitude de Rosinha

   


Dominique Dreyfus considera que Rosinha não tomou a atitude errada ao vender patrimônio que pertenceu a Luiz Gonzaga

 

 

 

 


 

Gonzaga Família
 
 

ROLANDO DE FREITAS AE


Música intermediou aproximação entre Luiz Gonzaga e Gonzaguinha



Gonzaga sempre foi um homem de contrariedades. Enquanto era amado por milhões de brasileiros, manteve uma dura relação com os dois filhos: Gonzaguinha e Rosinha. Durante sua vida com Helena, o Rei do Baião enfrentou grandes crises no casamento, muitas delas oriundas do ciúme da esposa, da rejeição que ela tinha pelo filho mais velho do marido, e da forma como optara por criar a filha adotiva do casal, regada a mimos.

O relacionamento familiar de Gonzagão, apesar da fama e das boas condições de vida, tão pouco se assemelhavam ao carinho que sempre encontrou no berço dos pais, seu Januário e dona Santana, na pequena cidade do Sertão pernambucano. 

 

 

 

 

Infância e adolescência sem presença paterna
Rejeitado pela madrasta, Gonzaguinha também mantinha divergências com o pai
 
 

ROLANDO DE FREITAS AE


Luizinho ficou com os padrinhos no Morro de São Carlos até os 16 anos


A música que uniu pai e filho nos últimos anos de vida do Rei do Baião também foi a responsável pela ausência da figura paterna durante a infância e a adolescência de Gonzaguinha. Luizinho, como era chamado, foi obrigado a conviver com a distância do pai, envolto com projetos e a agenda lotada de compromissos. Luiz Gonzaga chegava a passar meses longe do Rio de Janeiro, sempre acompanhado da sanfona, sua velha amiga.

Luizinho é fruto da paixão entre Luiz Gonzaga e a carioca Odaléia dos Santos Guedes. Veio ao mundo no dia 22 de setembro de 1945, mesmo ano em que o pai estreava nos discos como cantor. Com apenas dois anos, o garoto perdeu a mãe, vítima de uma tuberculose. Naquela altura, Luiz Gonzaga já estava prestes a se casar com a pernambucana Helena das Neves Cavalcanti, com quem viveria longos 40 anos. 

O desejo que Luiz tinha em criar o menino esbarrou na vontade de Helena e da sogra, dona Marieta. Decide então levar o garoto para a casa dos padrinhos Henrique Xavier Pinheiro, o Baiano do Violão, e Leopoldina de Castro Xavier, a Dina, residentes no Morro de São Carlos, bairro do Estácio, Rio de Janeiro. Visitas do sanfoneiro ao filho eram raras, e o dinheiro, necessário para custear os estudos e outros gastos do menino, insuficiente. A própria Dina educou o garoto a não incomodar o pai com pedidos de dinheiro.


Priscila conta que o relacionamento entre pai e filho melhorou depois da sua chegada à casa da família Gonzaga

Os atos de indisciplina foram repreendidos pelo pai com o internato. Castigo. Aos nove anos, entrou para o Educandário Nossa Senhora das Graças, no Grajaú. Ciente das travessuras do moleque, Luiz Gonzaga tinha medo que o garoto se envolvesse com pessoas erradas. No Morro de São Carlos, Luizinho ficou até os 16 anos, quando decidiu morar com o pai em Miguel Pereira. A família Gonzaga do Nascimento tinha como novo membro Rosa Maria, a Rosinha, que foi adotada pelo casal. A relação com Helena continuava complicada e as divergências com o pai se acentuaram. 

Priscila Vicente dos Santos (Foto), que trabalhou 38 anos na casa da família, no Rio, é uma das poucas testemunhas vivas da convivência íntima. Do relacionamento entre pai e filho, ela classifica o convívio como frio, porém diz que nunca faltou respeito, mesmo nos momentos mais conflituosos. "A relação de Luiz Gonzaga não era muito boa com Gonzaguinha. Helena, inclusive, implicava comigo porque achava que eu estava fazendo uma união entre eles. Eles não brigavam, mas eram muito distantes. Quando cheguei na casa de Gonzaga, as coisas melhoraram muito", relata Priscila, hoje com 89 anos. Natural do Exu, ela foi para o Rio de Janeiro com apenas 12 anos. 

 

 

Música agora aproxima pai e filho
Rancor é deixado de lado com planejamento de turnê dos dois juntos
 
 


Amiga íntima de Gonzaguinha, Isa Apolinário foi testemunha do apreço do filho pelo pai famoso

O ressentimento que marcou a delicada trajetória da relação entre Seu Luiz e Gonzaguinha havia se dissipado. O rancor de outrora deu lugar à compreensão e ao respeito. Por ironia do destino, a música se encarregou de intermediar a tão aguardada aproximação, que aconteceria somente no começo de 1980. Insatisfeito com a pouca valorização que o pai recebia, Luizinho, apelido que recebera na infância do Morro de São Carlos, planejou a realização de uma turnê com o Rei do Baião.

A série de divergências entre pai e filho, sobretudo em relação à personalidade e à posição política de ambos, continuava aflorada, porém, um compreendia a postura e os defeitos do outro. A dolorosa questão sobre a presença paterna também não mais os incomodava. A missão de Gonzaguinha era, simplesmente, fazer com que o pai recebesse o reconhecimento devido. O show “Vida de Viajante” teve início no dia 24 de abril de 1980, com toda a infraestrutura que o Rei merecia.

O velho se sentiu orgulhoso com o tratamento e o esforço empenhado pelo filho Luizinho. “No fim de uma carreira, ser contratado pelo próprio filho e receber atenções, carinho, participando desta liberdade que os jovens sabem concentrar, misturada com inteligência, cultura e atualização de tudo é uma dádiva”, relatou Luiz Gonzaga em entrevista à revista Ele e Ela, reproduzida no livro Gonzaguinha e Gonzagão, da jornalista Regina Echeverria.

Superada a mágoa com o pai, Gonzaguinha parecia um novo sujeito, menos intransigente, mais maleável. Mas não fazia a mínima questão que o aceitassem. “Sou uma pessoa mais calma, um sujeito que consegue colocar sua calma para fora. Mas também posso continuar sendo antipático e simpático sem forçar a barra. Sou chato, também sou desagradável, sério e maldito”. 

Gonzaguinha queria recuperar o tempo perdido com as amarguras do passado. Desejara conhecer a história do pai e entender o porquê de tanta devoção ao sanfoneiro. Amiga íntima de Luizinho, Isa Apolinário foi testemunha do apreço do filho com o pai. “Ele pedia pra gente contar todas as histórias que Gonzaga vivia aqui nas esquinas. Quis conhecer todo mundo que Luiz Gonzaga convivia, ir à casa de todos. Tinha orgulho de ser filho do Rei do Baião”.

Em 1982, dois anos depois do início da turnê Vida de Viajante, Gonzaguinha foi ao Exu festejar os 70 anos do Rei, dia 13 de dezembro. Chamada por Seu Luiz de a “festa da paz”, o evento contou com a presença de quatro mil pessoas, uma multidão para o município, que na época tinha cerca de oito mil habitantes.

 

Paternidade povoada com boatos
Discussão incomodava pai e filho, mas nunca chegaram a levar questão adiante
 
 

 

ROLANDO DE FREITAS AE


Dúvida sobre paternidade era alimentada, sobretudo, pela aparência física de Gonzaguinha, que pouco se assemelhava ao pai

Nunca foi do agrado de Seu Luiz, e muito menos de Gonzaguinha, falar sobre paternidade. Como se já não bastasse a perda da mãe Odaléia, quando tinha apenas dois anos, Luizinho convivia ainda com a rejeição da madrasta Helena das Neves Cavalcanti, a ausência do pai e a entrada no internato. No semblante era expressa a mágoa ao desprezo da família. Em determinado período da adolescência, Gonzaguinha muda de comportamento e passa a tratar o mundo com frieza e certo rancor. 

A polêmica em torno da paternidade de Gonzaguinha tem início com Helena, que, por não conseguir engravidar, teria espalhado que seu marido era estéril. Com a versão, a esposa do rei sustentou a conversa de que o marido não poderia ser o pai biológico do menino. Luiz Gonzaga, no entanto, jamais confirmou a esterilidade. A dúvida era alimentada, sobretudo, pela aparência física de Luizinho, que pouco se assemelhava ao pai. Coincidência ou não, nunca surgiram notícias de que alguém tenha reivindicado a paternidade de Gonzaguinha. 

Há quem discorde com veemência. "Gonzaguinha e Daniel (neto de Luiz) têm uma semelhança muito grande com Januário. Daniel diz que é a cara do bisavô. Não sei por que o povo questiona a paternidade", reclama Isa Apolinário, amiga de Gonzaguinha. "Ele sempre sorria quando saía alguma coisa sobre a paternidade na mídia. Gonzaguinha era muito discreto com isso. Ele mesmo não tinha dúvida de que Luiz Gonzaga era seu pai", relata. 

Para Isa, a filiação de Gonzaguinha envolve também uma questão de honra. "Acho que nenhum sertanejo registraria seu filho se não tivesse a certeza porque você sabe que o pessoal aqui é muito ignorante, principalmente os homens. Naquela época, mais ainda. Então, jamais ele registraria um filho que não fosse dele", opina a exuense Isa. 


Priscila  descreve parte do conteúdo da carta que Seu Luiz enviou para a mãe Santana, por volta de 1945, comunicando o nascimento de Luizinho


Íntima da família Gonzaga do Nascimento, para quem trabalhou 38 anos, no Rio, Priscila Vicente dos Santos descreve parte do conteúdo da carta que Seu Luiz enviou para a mãe Santana, por volta de 1945, comunicando o nascimento de Luizinho. "Na carta, ele dizia: mãe, eu queria que você convivesse com Odaléia. Tive um filho com ela. Vou colocar o nome dele de Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior. Um tempo depois, mãe Santana respondeu: se você viveu com ela, teve um filho, então, por que não casou? Aí ele respondeu: depois eu converso com a senhora". Três anos depois, em 1948, Odaléia faleceu, em decorrência de uma tuberculose. 

O fato é que, em vida, Gonzaguinha e Gonzagão jamais se preocuparam em realizar algum exame que colocasse um ponto final na questão. Haveria a possibilidade do exame de DNA nos restos mortais do rei, mas nenhum dos herdeiros se pronunciou para o caso. 

 

 

 
Rosinha exalta convívio com pai
Luiz Gonzaga fazia questão de levar a filha para acompanhá-lo nas viagens
 
 


Rosinha foi adotada pelo casal Helena Cavalcanti e Luiz Gonzaga no começo da década de 1950

Diferente de Gonzaguinha, a outro filha do Velho Lua, a menina Rosa Maria, chamada de Rosinha, sempre dispôs do conforto e de todas as condições necessárias para a criação. Foi adotada pelo casal Helena Cavalcanti e Luiz Gonzaga no começo da década de 1950, quando a família se mudou para uma casa no bairro do Cachambi, Zona Norte do Rio.

Mesmo com a agenda lotada, Seu Luiz dava um jeito de levar a garota para acompanhá-lo nas viagens. Rosinha, que hoje mora no Jardim Guanabara, na Ilha do Governador, lembra com carinho a infância e o convívio com o pai famoso. "Tive uma infância maravilhosa, viajava muito com ele, para os shows, sempre tive festas de aniversário maravilhosas. Inclusive, ele sempre trazia o palhaço Carequinha para a festa. São ótimas as recordações", conta Rosinha, em entrevista ao FolhaPE.


Ao lado da mãe Helena e do pai Luiz Gonzaga, Rosinha acompanha o irmão Gonzaguinha tocando violão

Desde cedo, a menina franzina, de cabelos encaracolados, compreendeu a vida corrida do pai. "Ao mesmo que tempo que teve a ausência, ela também estava presente. Sempre entendi essa vida dele de artista. Era complicado, mas nos dávamos bem". Na residência em Miguel Pereira, na Baixada Fluminense, começo dos anos 1960, conheceu os grandes amigos do rei. "Lá, ele reunia todas as pessoas. Zé Dantas conviveu muito, a dona Yolanda Dantas também, os filhos todos. Era ótimo".

Na casa localizada na Baixada, Rosinha também teve a oportunidade de conviver com o irmão, que saíra do Morro de São Carlos, onde morava com os padrinhos, Dina e Xavier, para morar com o pai. Entendia a personalidade forte de Luizinho. "Eu e o Gonzaguinha sempre nos demos bem. Me dei muito bem com a esposa dele, Ângela, e com meu sobrinho, Daniel. Com o Gonzaguinha tinha aquela coisa do temperamento dele, mas era uma ótima pessoa".

Uma das características marcantes do Velho Lua era a generosidade. Rosinha foi testemunha disso. “Meu pai era uma pessoa muito boa. O que a gente quisesse, ele dava”. A alegria do passado, no entanto, contrasta com a dor do presente. Em 2008, Rosinha perdeu seu filho único, Sandro Luiz Gonzaga, que foi assassinado aos 35 anos. O neto do Rei do Baião era inspetor da polícia civil e morava na Ilha do Governador, onde um dia também residiu seu avô.

*As imagens presentes no texto foram extraídas do livro Gonzaguinha e Gonzagão, da jornalista Regina Echeverria.